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Adora Juicy IPA? Conheça a cervejaria que trouxe o estilo para o Brasil

Juliana Simon

20/06/2021 04h00

Melonrise, da Trilha, a primeira Juicy IPA brasileira (Crédito: Tales Hidequi)

Hoje em dia, não precisa caçar muito no meio cervejeiro para encontrar quem faça uma Juicy IPA (não sabe o que isso quer dizer? Explicamos aqui). A lupulada cheia de corpo, aroma e sabores intensos caiu no gosto de muita gente pelo mundo – e ganhou até corações criteriosos, como Garrett Oliver, para quem o estilo nasceu no Instagram.

No Brasil, a chegada dessa variação da já famosa India Pale Ale tem "culpado": a cervejaria Trilha e sua primeira produção Melonrise. Novidade para o mercado em 2016, ela é, até hoje, a mais vendida do portfólio da cervejaria que completa cinco anos no próximo 21 de junho e inspirou muitos a seguirem a aposta.

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Acho que tem uma pequena revolução aí", conta Daniel Bekeierman.

O fundador da cervejaria, ao lado de Beto Tempel, conta que, na época, o público que curtia cerveja artesanal consumia muita IPA importada. As IPAs nacionais estavam, em sua maioria, sendo pasteurizadas e distribuídas sem muito cuidado com o produto. Isso fazia com que as cervejas se degradassem nas gôndolas.

Tínhamos uma situação inacreditável: cervejas artesanais que não ganhavam em frescor das cervejas importadas".

Com as Juicy IPAs, que recebem uma dose de 4 a 5 vezes maior de lúpulo do que as IPAs mais tradicionais, isso mudou.

"Tem muito sabor e, lógico, muita coisa viva dentro dessas cervejas. É um produto para ser consumido super fresco e tem que ser mantido em cadeia refrigerada. Dá um trabalhão e custa caro produzir", conta

E acrescenta: foi com este novo estilo que os clientes começaram a entender o verdadeiro impacto do frescor e cuidado refrigerado com a cerveja. E isso abriu um mercado para IPAs locais, que poderiam garantir a bebida "do tanque pro copo".

Como nasceu a pioneira

Pouco depois da Melonrise, produções da IPA "suculenta" surgiram pelo país, como a Overdrive, da Hocus Pocus, a Overhop Hazy, da Overhop, que vieram meses depois. Hoje, o estilo compõe boa parte do portfólio da prolífica UX Brew, está também entre destaques da OCA, Blondine, Croma, chegando até às mainstream, como Colorado.

Para chegar à Juicy ideal, foram algumas viagens para os EUA, para provar in loco muitas referências do estilo e trazer para o Brasil algumas amostras. "Lembro que voltei de Vermont com 60 garrafas na mala", relembra Daniel.

Após muitos lotes e contínuo sucesso, o cervejeiro acredita que o processo só resulta em produções cada vez melhores e um público mais e mais fiel.

"A nossa Melonrise acaba tendo um lugar especial por seu pioneirismo e acabou virando uma referência nacional do estilo", crava.

Melonrise e suas variações (crédito: Tales Hidequi)

Onde o "comum" não tem vez

Defensora de produções "fora do comum", a Trilha não planeja produzir o que lota das prateleiras dos supermercados.

"Estamos nos referindo ao produto aguado para beber extremamente gelado em grande quantidade. O mercado já está bastante abastecido de cerveja ruim. Nós pensamos cerveja de maneira ampla. Gostamos de falar que não nos atemos ao passado (estilos clássicos), não nos limitamos ao mercado como ele é hoje (presente) e somos otimistas com relação a tanta coisa que dá para criar (futuro)", afirma Daniel.

E até mesmo a construção da receita parte de ideias pouco óbvias.

"A nossa abordagem é mais gastronômica. Partimos do sensorial da cerveja e não do estilo", conta. Influência indiscutível do mestre-cervejeiro Beto, que também é chef e atuou em restaurantes por anos.

Quem manda é a cerveja e como ela está evoluindo no sensorial. Provamos todo dia e vamos tomando decisões diariamente de como cada cerveja será encaminhada. Nossa condição de existência é que o produto fique incrível."

E a bola da vez são as cervejas barrel aged – que ganharam até um clube de assinaturas específico há três anos, o Barrel Club. "Estamos pirando nos resultados e tem tanta coisa legal nos nossos barris agora!", se anima.

Mercado: o que é ser independente?

Tocadas por seus fundadores e colaboradores e fora dos grandes grupos cervejeiros, a Trilha defende com unhas e dentes o caráter artesanal – que muitas outras ainda levam no discurso, mas não propriamente na prática, com produções cada vez mais massificadas.

Bella (Crédito: Ricardo D'Angelo)

"Toda vez que um consumidor compra uma cerveja de um produtor independente, apoia a cervejaria e ajuda a criar um mercado mais democrático e aberto, onde cervejarias com diferentes propostas de valor podem coexistir e trazer novas experiências", opina Daniel.

Nossas cervejas são para momentos mais especiais, naquele momento em que você quer se tratar bem, sabe?"

Com mais de 250 receitas lançadas, nem só de Juicy IPAs vive a cervejaria.

Há desde a Pils!, uma pilsen não-filtrada, ou a Bella, uma witbier super refrescante criada em parceria com o restaurante Così, até cervejas envelhecidas em barril, ácidas, stouts bem encorpadas.

Com essa liberdade de experimentações, o foco está na resposta de quem está do outro lado do balcão – ou tem seu nome entre os destinatários dos clubes de assinatura (que cresceram 40% da pandemia) e o e-commerce.

"É uma baita ferramenta para ampliar essa conversa com o consumidor. No on-line conseguimos enxergar mais dados, organizar muito melhor essa conversa", conta.

As envelhecidas do Barrel Club, da Trilha (Crédito: Tales Hidequi)

Já as cervejas por assinatura nasceram para tirar do papel o projeto Barrel Aged, para contar com respaldo na criação de cervejas que têm um processo complexo de produção. Depois veio o clube de cervejas lupuladas que são enviadas direto do envase. Ou seja, mais frescas, impossível.

Mais recentemente, surgiu uma terceira proposta, para novos consumidores que queiram conhecer as novidades ou para quem quer descobrir a cerveja, mas não sabe como começar.

Clube de assinatura (Crédito: Tales Hidequi)

São Paulo cervejeira

Ainda que o Brasil tenha muitas cervejarias pipocando de norte a sul, São Paulo ainda é vista como "o lugar para se conhecer as novidades" – afinal, é aqui que residem de Empório Alto de Pinheiros às importadoras mais ativas do país.

Ainda assim, a produção cervejeira paulistana não é exatamente característica ou famosa (basta olhar para o sul e ver surgir o primeiro estilo nacional, a bendita Catharina Sour). E a Trilha também planeja mudar isso.

"Costumo falar que a gente se orgulha de muita coisa em São Paulo: da pizza, dos restaurantes, da padaria. Mas não sentimos nada por nenhuma cervejaria de São Paulo. Tá na hora de mudarmos isso. Queremos ser um orgulho para a nossa cidade", conclui Daniel.

Spoiler!

Em julho, a cervejaria lança a Juicy IPA Brasa, sua primeira cerveja feita 100% a partir de ingredientes brasileiros, com lúpulo produzido em duas fazendas no oeste do estado de São Paulo.

Brasa, a cerveja 100% nacional (Crédito: Tales Hidequi)

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Sobre a autora

Juliana Simon é jornalista do UOL, sommelière de cervejas, mestre em estilos e especialista em harmonização pelo Instituto da Cerveja Brasil.

Sobre o blog

O Siga o Copo é espaço para dicas, novidades e reportagens para quem já adora ou quer saber mais sobre o universo cervejeiro e de mais bebidas.