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Dar nota para cerveja não quer dizer nada - mas app é mão na roda

Juliana Simon

27/08/2019 09h52

Crédito: Pejmon Hodaee/Unsplash

Tenho uma conta no Untappd desde 23 de junho de 2013. Nessa época, bebia muito menos, julgava muito mais, registrava as que eu lembrava e dava uma nota. Meu critério era apenas meu paladar no contexto da época – o de conhecimento cervejeiro próximo de zero.

Como disse aqui, já senti gosto de sabão em wit e cinzeiro em rauchbier em estilos que não conhecia – e a nota dessas provas teria sido zero, 0,5? Eu era o que o Sommelier da Depressão chama de "poeta de Untappd" à minha maneira.

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E qual o problema nisso?

Bem, criar uma rede de "achismo" cervejeiro é um deles. Sem uma "curadoria" (o que tornaria o negócio bem chato, mas bem mais confiável), é só um sopão de dados, gostos e pitacos.

Anos depois e muita água passada pela ponte cervejeira, me perguntam com frequência por que não dou mais nota e o motivo de eu nunca fazer análise das cervejas do app mais famoso do mundo cervejeiro.

Sobre notas: ranking não quer dizer nada. A maravilha e a merda da internet é que todo mundo pode alardear sua opinião por aí. Em forma de número fica ainda mais superficial. O que quer dizer uma cerveja nota 5, no fim das contas? É a mais pop? É a moda da vez?

Exemplo: uma cerveja que foi inesquecível para mim foi a Cuvée des Jacobins Rouge, para a qual eu dei nota 4,5 em 2016. A média da bonita no app? 3,9. O que isso quer dizer? Bem… nada. Você, leitor, se provar sem nunca ter tomado uma Flanders Red Ale tem grandes chances de me bater se um dia me encontrar na rua. Um cervejeiro que tenha tesão pelo balsâmico (eu) vai questionar o motivo de não dar 5. E por aí vai.

Sobre descrições: eu tenho preguiça. Se estou numa confraria, ou julgando concursos de cerveja, serei criteriosa, chata, farei textões em fichas. Se eu tô bebendo na paz, amigo, não vou parar para bochechar a bebida e fazer análise sensorial.

Então para que serve?

Para formar sua opinião cervejeira é que não serve. Para isso, estudo e "horas-copo" são bem mais válidas que rede social. Com ou sem especialistas. Cada um tem um background, contexto e treino de paladar.

A beleza do app está no uso dele para além da telinha: consultar o que tem nas cervejarias (alow, estabelecimentos!), catalogar cervejas consumidas para não repetir nesse variado mundão, vasculhar bares bacanas próximos em viagens e conhecer a cultura cervejeira local.

Em um mundo cada vez mais voltado para o virtual, a cerveja merece muito mais que um "thread" de achismos e manjões. Bom uso de qualquer rede social ajuda a cabeça, coração e, claro, paladar.

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Sobre a autora

Juliana Simon é jornalista do UOL, sommelière de cervejas, mestre em estilos e especialista em harmonização pelo Instituto da Cerveja Brasil.

Sobre o blog

O Siga o Copo é espaço para dicas, novidades e reportagens para quem já adora ou quer saber mais sobre o universo cervejeiro e de mais bebidas.