No Olimpo das artesanais, Dogma cresce e vira jogo em acusação de racismo
"Qualidade, intensidade e inovação", é assim que a Dogma, cervejaria que já virou símbolo entre as artesanais, se define em cinco anos de existência. Não tem como negar: todo "cabeça de lúpulo" que se preze já elegeu uma IPAs da marca como uma das melhores.
Nessa estrada curta para mainstream, mas enorme para artesanais, a empresa acabou sintetizando muitos acertos e erros do mercado e, neste ano (pandêmico) cervejeiro, a Dogma também despontou em temas como a sobrevivência em tempos de covid-19 e racismo.
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Outros assuntos, no entanto, estão na mesa do bar desde o nascimento na marca, a começar pelos preços das produções – uma lata de 473 ml pode passar dos R$ 40 – e a ausência de uma linha mais acessível, como já fizeram outras cervejarias queridas do meio, como Dádiva e Blondine, por exemplo.
Beber menos e melhor quer dizer pagar mais por isso? Em conversa com Siga o Copo, a Dogma defende que sim:
"Hoje vemos que o público entendeu isso e está disposto a pagar mais por produtos de qualidade", afirma Bruno Moreno Brito, um dos fundadores da cervejaria.
Se ele está disposto a pagar mais caro não pode se arrepender. Além disso, trabalhar bem a variedade de produtos é importante, sempre trazendo novas experiências ao consumidor.
Além dos "hopheads"
Se os preços não mudam, a cara da cerveja já não é SOMENTE a do "ipeiro" e os horizontes explodiram com o nascimento do brewpub na Vila Buarque (São Paulo), em 2017, e aposta em uma maior variedade de estilos, como Imperial Stouts, sours envelhecidas em barricas, sours com frutas, a série de ales tradicionais inglesas From Rejection to Oblivion, além da Pilsen de linha Rest in Pilz.
(As favoritas do blog também entram nessa categoria, com as sazonais Branca de Brett e a Strong Scoth Ale The Wallace)
Ainda assim, o maior sucesso e fracasso da cervejaria é favorita de muito amante de IPA – mais precisamente uma Double IPA.
Segundo Bruno, a Rizoma foi a cerveja que construiu a base para a Dogma crescer. Já a Rizoma II foi a maior decepção, devido aos problemas que esse produto apresentou na época.
Sucesso – até em tempos de crise
Premiada pela crítica e sucesso de público, a cervejaria não parou de desafiar o mercado – que já não estava lá tão otimista pré-covid. Se em 2017 veio o contato direto com o público no brewpub e um respiro na identidade da marca, no finzinho do caótico 2020, foi a vez de lançar mais novidades.
Primeiro, uma nova fábrica no bairro da Mooca, com capacidade de produção de 50.000 litros e a intenção de investir mais em cervejas em barril e nos drinques prontos, como o já lançado Negroni.
As vantagens de uma fábrica pra chamar de… Dogma são óbvias: mais controle sobre o processo, mais competitividade no mercado e a demonstração de que o mercado artesanal tem para onde crescer, amadurecer e aparecer.
Além desta expansão, os bairros do Jardins e Itaim Bibi receberam dois tasting rooms – se unindo ao espaço no centro da cidade, que também terá esse perfil.
Por trás da cerveja tem gente
No turbilhão da pandemia, o mercado cervejeiro parece ter acordado para o mundo e deu demonstrações de que só vai crescer se sair da bolha. A Dogma foi uma das cervejarias a perceber isso da pior forma – mas que, ao contrário de Illuminatis por aí, trabalha para evoluir, reparar e dar o próximo passo.
Em junho de 2020, o rótulo da cerveja Cafuza foi questionado em um comentário que viralizou e revoltou quem não conhecia o produto – e até quem nunca tinha percebido a gravidade do que se estampava nele: a imagem de uma negra escravizada.
Além do pronto pedido de desculpas e da retirada da embalagem em questão do mercado, nasceu um projeto sob a batuta dos sommeliers Glauco Ribeiro, Sara Araújo e Sulamita Theodoro, da Afrocerva (Associação de Cervejeiros Negros).
Após o episódio Cafuza, foram meses de estudo para as receitas, curadoria da arte do rótulo, nomes e todo o conceito da série Griot – na África Ocidental, é a pessoa responsável por transmitir conhecimento e sabedoria.
Em 21 de janeiro, foi lançada a saison Hantu, a primeira da trilogia de cervejas – que ainda terá Kintu (NE IPA com lúpulos Sul Africanos) e Muntu (Hantu envelhecida em barrica).
À base de Cajá, Caju, Melado de Cana, a cerveja tem como rótulo a arte de João Gabriel, inspirada na personagem Ponciá Vicêncio, do livro da escritora Conceição Evaristo.
Como explica Sula "o intuito de não dar uma resposta pronta, mas sim apresentar as histórias e gerar reflexão".
Se o cervejeiro precisa de boas notícias para seguir em frente depois de frequentes pancadas, a Dogma lidera neste quesito desde o primeiro mês de 2021.
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